top of page
  • Black Instagram Icon
  • Black YouTube Icon

Por que eu optei pela Bariátrica?

  • Bianca Silva
  • 9 de nov. de 2017
  • 5 min de leitura

Foto: Ana Lídia Mendes

Confesso que escrever um texto sobre o por quê de eu ter decidido optar pela Bariátrica não é fácil, pois foram muitos os motivos que contribuíram para que eu tomasse essa decisão. Contudo, prometo tentar descrever, para vocês, quais motivos foram esses, pois há uma grande chance de você, que está lendo esse texto agora, estar querendo/precisando da Bariátrica, mas não sabe como decidir isso. Bem, vamos lá.


Eu nasci com o peso normal (pouco mais de 3 quilos). Porém, a partir dos meus 8 anos de idade, eu comecei a engordar. E se você também foi uma criança/adolescente gorda (o), sabe que o mais difícil nem é ser gordo e ter limitações, mas sim ser motivo de piada para as pessoas. Desde meus 8 anos eu fui obrigada a encarar a vida como uma pessoa adulta, para conseguir ir à escolar, estudar, já que sempre foi algo que eu gostei muito de fazer. Eu tinha duas opções: ou eu lidava com aquilo como uma criança, chorando por não ter amigos e por ser motivo de piada, ou eu crescia antes do tempo e lidava com aquilo de frente, como gente grande mesmo. Eu optei pela segunda opção, pelo menos aparentemente; pelo menos na frente das pessoas. Eu ouvia as coisas, apanhava e era humilhada, mas fingia não estar passando por nada daquilo, até chegar em casa e poder tirar minha fantasia de gente grande e chorar até cair no sono.


Essa cena se repetiu por muito tempo, até mesmo no ensino médio, quando eu já era uma quase adulta, com meus 80 e poucos quilos. Inclusive, tem um episódio, que aconteceu no ensino médio, e que vai ficar guardado comigo pra sempre, infelizmente. Eu estava na sala de aula, na hora do intervalo, lanchando, assim como mais da metade da turma. Porém, como eu era a única gorda da sala, aparentemente eu também era a única que não podia comer, porque "eu já tinha abastecimento demais em meu organismo". Bom, dei uma mordida no meu lanche (não lembro o que era, mas algo como pão recheado) e meu professor de química parou o que estava fazendo (ou seja, nada, porque ele sempre foi inútil, inclusive como professor) e disse em alto e bom tom: comendo desse jeito, você nunca vai conseguir entrar numa faculdade. Eu simplesmente travei. Naquele momento, eu só queria chorar. Chorar por todas as coisas que eu já tinha ouvido, ao longo dos anos, mas eu só consegui levantar da cadeira e sair da sala. Me sentei num local afastado de todos e desabei em lágrimas. Eu desabei de uma forma tão desesperada que alguém deve ter ouvido e contado ao professor (sim, o que me disse que eu não teria capacidade de entrar numa faculdade por ser gorda). Quando eu voltei à sala, para pegar minha bolsa e ir para casa, ele passou por mim, no corredor, e me pediu desculpas. Eu disse a ele "que não se preocupasse, porque eu estava bem". E, na verdade, era isso que eu sempre dizia; era isso que eu sempre fazia. Eu estive mal durante toda a minha infância/adolescência, e só sabia dizer que "tudo bem, vai passar, eu vou ficar bem".


Ninguém quer saber se você engorda por questões genéticas e hormonais, sabe? O problema das pessoas é associar o gordo (a) a má alimentação, mas há muitos outros fatores que, às vezes, influenciam até mais que uma alimentação irregular. Esse era o meu caso. Toda a minha família é gorda/obesa. Meu pai, por exemplo, foi um dos primeiros obesos a se submeter à uma Bariátrica, aqui em Caruaru. Fazem 16 anos que ele fez a cirurgia e perdeu 100 quilos (hoje ele pesa 80). Eu sempre tive problemas hormonais. Minha primeira menstruação, por exemplo, foi aos 11 anos. Após a primeira, eu passei 1 ano sem menstruar, depois veio por um mês, e esse ciclo se repete até hoje. Minha última menstruação veio um dia após minha bariátrica (14 de julho de 2017) e durou 3 meses para que ela fosse embora. Tomei remédios - muitos remédios-, fiz exames e nenhum acusou nenhuma anormalidade, como cisto ou mioma. Ou seja, meu problema é hormonal, e isso não influencia apenas na menstruação, mas no ganho de peso também.


Antes da cirurgia, eu já havia tentado de tudo: academia, natação, caminhadas longas, dietas com acompanhamento de especialistas, dietas malucas e tudo que vocês imaginarem. Nada, absolutamente NADA, resolveu. Porque se vocês acham que "resolver" é perder peso rápido e depois voltar a engordar o dobro do que perdeu, eu te digo: isso não é resolver. Eu já não aguentava mais "resolver" minha vida temporariamente e viver num eterno efeito sanfona. Além do que, eu me esforçava, MUITO, e quando subia na balança, só havia perdido gramas. Quem passa/passou pela mesma coisa sabe o quanto isso é frustrante. Tudo é frustrante, aliás, principalmente não poder fazer coisas simples do cotidiano, como correr, andar por muito tempo, andar de ônibus sem entalar na catraca, amarrar os sapatos sem ficar cansada... enfim, é muito frustrante não poder fazer essas pequenas coisas. Essas pequenas coisas - e as grandes também - me consumiram até eu desenvolver uma ansiedade sem tamanho, síndrome do pânico e depressão.


Por um curto tempo, eu consegui dar a volta por cima, principalmente por causa de meninas gordas que se amam e demonstravam/demonstram esse amor próprio, através das redes sociais. Mas eu tive uma recaída, principalmente quando eu soube que estava com obesidade mórbida, aos 20 anos, e pesando mais de 120 quilos. Eu não queria chegar ao ponto em que meu pai chegou, porque ele teve que fazer a Bariátrica "às pressas", caso quisesse acompanhar o crescimento da filha, no caso eu. Eu nunca tive medo de fazer a cirurgia, porque antes de fazer eu conversei com muitas pessoas - e claro, acompanhei meu pai -. Hoje, após quase 4 meses de cirurgia e com 35 quilos a menos, afirmo com total convicção: eu só me arrependo de não ter feito a cirurgia antes, porque ela não apenas está devolvendo minha qualidade de vida, como também minha autoestima, meu amor próprio e uma vontade de viver que eu nunca havia sentido antes.


Portanto, se você cogita uma bariátrica, dê o primeiro passo, que é marcar uma consulta com um gastro. Converse com ele. Converse com pessoas que já fizeram. Analise. Pesquise. É uma decisão difícil a se tomar, porque sua vida mudará completamente, e seus hábitos também, mas é uma decisão que devolve a vida a muitas pessoas, e uma delas pode ser você.


Ah, e sobre o professor escroto que me humilhou, eu o encontrei, no primeiro dia de aula, na faculdade, e nem precisei dizer nada, porque estar lá, cursando algo que eu amo, foi minha resposta pra ele. Esse texto está sendo escrito porque eu estou concluindo minha graduação, então eu digo a vocês: não há nada mais motivador do que ouvir alguém te dizendo que você não vai alcançar grandes coisas. É isso.

Comments


TAGS

CADASTRE SEU E-MAIL E RECEBA AS NOVIDADES EM PRIMEIRA MÃO

© 2023 by Lovely Little Things. Proudly created with Wix.com

bottom of page